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Princípios

que orientam meu trabalho

Enquanto psicólogo, eu tenho o dever ético de atuar na promoção dos direitos básicos fundamentais presentes em nossa Constituição Federal e de lutar contra suas violações. 

É meu papel te ajudar a identificar sofrimentos e violências causadas por estruturas sociais e sistemas de opressão, além de compreender as lógicas e mecanismos pelas quais essas violências ocorrem em sua vida. Desta forma, consigo te auxiliar a encontrar brechas para que a sua vida possa florescer em meio à dor, tanto individualmente quanto em coletivo. 

Por isso, eu tomo como princípios norteadores do meu trabalho os seguintes pontos:

Redução de danos

Reduzir danos diz sobre manejo de risco e sobre diminuir o sofrimento, especialmente no uso de drogas, sejam essas substâncias lícitas ou ilícitas. Quando digo drogas, digo no sentido mais amplo possível, ou seja, da cafeína e nicotina, passando pelo álcool e indo até a cannabis, ópio e remédios psiquiátricos controlados. Drogas são muito potentes e são utilizadas como calmantes ou estimulantes, para alívio de dores, fuga da realidade e busca por prazer e felicidade. Porém, para além desses efeitos positivos, há uma série de dificuldades quando pensamos o uso de drogas na nossa sociedade, como vício, efeitos colaterais, efeitos adversos subjetivos, prejuízos sociais e até repressão estatal. Por conta desses perigos, a redução de danos pauta do princípio de informar os sujeitos sobre quais são os potenciais riscos que envolvem cada substância, potenciais efeitos de uso combinado e questões relacionadas à dosagem, meio de administração e contexto de uso, para que cada um tenha capacidade de decidir como utilizar drogas de forma autônoma e responsável. Eu uso em minha clínica essa lógica de controle de riscos e redução de danos de forma ampliada, tanto no manejo de drogas quanto em outros problemas que o cliente encontra.

Feminismo

O patriarcado causa uma série de sofrimentos para todas as mulheres, como a sobrecarga gerada pelo trabalho de cuidado, menores possibilidades de emprego, renda e carreira, maternidade compulsória, inferiorização de sua capacidade intelectual, dentre várias outras dificuldades. Há em nossa sociedade uma expectativa de padrão de beleza, de valorização por meio da escolha por homens e comportamento de subserviência de corpos lidos como mulheres, enquanto as vozes dessas mesmas mulheres são silenciadas e elas são taxadas de histéricas, loucas ou más aos tentar lutar contra esse sistema patriarcal e machista. Essa estrutura misógina precisa ser reconhecida e combatida.

Anticapitalismo

Nós vivemos em uma sociedade capitalista num momento de grande concentração de riquezas e desigualdade social, onde os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres, mais pobres. É necessário combater esse sistema de exploração, para garantir a todas as pessoas do nosso país condições dignas de moradia e trabalho. Isso significa lutar contra grandes poderes e fortunas, para tomar de volta as condições de gerir e gerar nossa própria vida, seja a terra, nosso tempo ou as ferramentas de nosso trabalho. Essa é uma luta coletiva e só por meio dela todos nós poderemos cuidar uns dos outros, ao invés de continuar sendo explorados por alguns poucos.  Entretanto, como o capitalismo é hegemônico e atravessa todas as instâncias de nossa vida, em minha clínica eu busco ajudar meus clientes a encontrarem brechas nessa lógica, procurando formar laços de solidariedade e comunidade em suas vidas.

Despatologização da vida

O saber médico propiciou uma série de avanços tecnológicos que aumentaram muito a qualidade de vida da humanidade. Porém, esse saber se tornou hegemônico e se estendeu para todos os aspectos da nossa vida. Experiências humanas de dor e sofrimento, frutos de uma existência numa sociedade em que trabalha-se tanto e ganha-se tão pouco, deixam de ser apenas sofrimentos para se tornar patologias - síndromes, transtornos e doenças. Essa lógica médica é incapaz de resolver de fato esses problemas, pois não olha para as reais causas desses sofrimentos, que são sociais. Ao invés disso, indivíduos são culpabilizados por seu sofrimento, como se este fosse algo apenas seu - íntimo, interno e biológico. É desta forma que a autonomia de cada um cuidar de suas próprias dores é terceirizada para esse saber médico. É por isso que em minha clínica eu tomo um ponto de partida político de abandonar essa terminologia médica e busco outros caminhos para compreender, descrever e lidar com o sofrimento de meus clientes. 

Antirracismo

As consequências de mais de 350 anos de escravidão e desumanização das populações negras em nosso território geraram cicatrizes profundas, tanto subjetivas, quanto estruturais e culturais. Uma grande parcela da população negra sofre com pobreza, marginalização, violência estatal e o apagamento de sua cultura, identidade e história. Em contraponto, a branquitude é tida como universal e garante uma série de privilégios para poucos em detrimento do sofrimento de muitos. Por isso, é necessário identificar e combater as violências e os privilégios do racismo, tanto em nós mesmos quanto na nossa sociedade.

Descolonialidade

O Brasil foi fundado em 1500 a partir da invasão portuguesa. Nesse momento, os corpos que aqui habitavam, tanto humanos quanto florestas, matas e bichos, todos deixaram de nos pertencer. O que herdamos desse processo foi a escravidão, a monocultura, a destruição da terra e dos saberes tradicionais, além da imposição de éticas e ritos europeus, como o cristianismo, o patriarcado e o capitalismo. Nos foi imposto uma forma de ser e pensar que é estrangeira, europeia, imposição esta que passa pela comida, costumes, saberes e chega até no nosso idioma. Usar apenas esse referencial teórico em nossas vidas é uma forma de nos manter reféns desse processo de colonialidade e dominação. Os saberes iluministas pouco ajudam a lidar com as dores que a violência colonial gerou. É por isso que em minha clínica eu busco compreender como esses sofrimentos atravessam meus clientes e busco outras referências de existência, como os saberes ancestrais dos nossos povos originários e dos povos negros que foram trazidos para cá, pois nesses há uma verdadeira potência de cura e liberdade.

Não-Monogamia Política

Não-Monogamia é um termo que assusta, que nos faz crer que estão atacando nossos relacionamentos -Não é sobre isso. Enquanto postura política, a Não-Monogamia diz sobre compreender as construções históricas do desejo e de nossas relações, bem como pensar sobre as regras e comportamentos que temos como naturais e automatizados. Tudo isso nos foi ensinado e pode gerar sofrimento, tanto para nós quanto para aqueles com quem nos relacionamos. Por isso, eu convido meus clientes a olharem suas vivências de um ponto de partida que são apenas vivências, não dentro de hierarquias pré-moldadas às quais eles têm que se enquadrar. Isso é importante pois escolher como e com quem nos relacionamos pode parecer ser um poder pequeno, mas é algo que todos podemos fazer e é uma atitude altamente transformadora que eu costumo convidar meus clientes a tomarem. 

Defesa dos direitos LGBTQIAP+

Vivemos em uma sociedade normativa e regrada, em que há prescrições claras de como ser e existir no mundo: nosso objetivo é trabalhar, casar, construir uma família, ter filhos. Homens devem ser provedores e fortes, mulheres devem ser sensíveis, cuidadoras e carinhosas. Homens devem se relacionar com mulheres e mulheres com homens. Mas essas prescrições podem não agradar a todos, o ser humano é múltiplo e muitos de nós não se enquadram nessas regras. Há outras formas de se existir no mundo e que não cabem nessa lógica binária de gênero, e há outras formas de desejar e se relacionar e que não se enquadram na heteronormatividade. Quando se afirma ser diferente desse script, quando se foge à norma, nossa sociedade prescritora tende a agir com violência e repressão, negando essas outras formas de existir, como vivências não-binárias e de outras masculinidades e feminilidades, e de outros tipos de afetos, como homoafetividade, pansexualidade e assexualidade. Em minha clínica, eu parto do princípio que todos, todas e todes têm o direito de serem quem se é, luto para que isso aconteça em nossa sociedade e procuro fornecer um espaço seguro para que essas identidades genuínas possam existir e florescer. 

Defesa dos direitos humanos

Todos nós somos seres humanos, dignos de respeito, escuta e cuidado, independente de nosso gênero, sexualidade, raça, religião ou qualquer outra forma de estigmatização ou preconceito. Isso não significa que tais marcadores devem ser ignorados, mas levados em conta em seus contextos históricos-sociais e intersecções. Isso vale também para a psicoterapia: lutar pela garantia de direitos básicos como acesso à vida, liberdade, trabalho, moradia, saúde e lazer é um dever de todos e um compromisso meu enquanto psicoterapeuta.

Para se compreender e trabalhar com temas tão complexos, é necessário se usar um vocabulário e uma análise igualmente complexos. Se você ficou em dúvida sobre algum dos tópicos que eu abordei, sinta-se à vontade para me perguntar sobre qualquer um desses pontos!

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